terça-feira, 4 de maio de 2010

O ANIMAL


1

Nasceu um animal. Inteligente, porem selvagem. Ate hoje anda pelas ruas do perigo observando a feira de cacarecos na madrugada da Gloria, caminhando junto com o lixo noturno do Catete, sempre longe da calçada, no meio da rua pra ter escape na hora de um assalto. E la vai ele, branquelo, cara de bonzinho, marcado pela selvageria interior. Nao morreu ainda nao se sabe como. Ja viveu situacos assombrosas, mas continua zombando do limite. Nunca foi domado, nenhuma alma conseguiu enfiar um lar na sua loucura.


Sempre tratou a relacao amorosa como se ele, o homem, fosse um bisao querendo procriar. Mas nunca teve rebanho. Nunca teve o tato de um cavalheiro. No maximo levava as femeas pra comer num restaurante legal, depois sexo, gostoso, forte, intenso, carinho, olhos nos olhos, cafune. Mas nunca mais ligava, nao adiantava nada sentir amor puro e pleno, nunca se interessou por convencionalismos cristaos. Balela. Nunca mais ligava de volta, nem um torpedo. Como se arrependia...


2

E ele sofre, sente saudades. Ele relembra por meses os poucos encontros amorosos de sua vida. Supervaloriza. Lembra de cada detalhe. Acredita que essas ocasioes sao pura magia ficcional que nos enchem de encanto. Depois de um tempo a saudade vai embora e o vazio preenche a esperanca de reencontrar aquela mulher. Mas nao pode mais, ja maltratou com o descaso, com patadas, arranhoes, e agora ela esta noutra, ferida, lambendo os cortes, em cima do muro, protegida por algum macho iluminado.


Existem animais solitarios em busca do cio que abrange uma floresta, e a cada 3 meses o bicho encontra algo. E assim a vida vai, formando cascas duras.