quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Meia-noite e eu com meu cachorro atravessando a passarela do Aterro do Flamengo. De longe vejo uma pessoa sentada na beira do viaduto com as pernas pra fora, balançando. Deve ser um mendigo, olho, não é, é uma garota, bonita, bem arrumada, com um livro na mão, no máximo uns 18 anos. Ela me olha, eu olho pra ela. Branca, cabelo rosa, ali, no meio do perigo vazio da noite. Minha cabeça começa a imaginar o pq dela estar ali, sentada, postada ao perigo, lendo ou escrevendo. Algum parente morreu, alguém roubou sua alegria? Artista louca? Deve se parecer muito comigo, sei lá... Se não perguntei pq estava ali deve ter sido pq queria tanto imaginá-la, torná-la parte de mim, dividir meu ser com ela.

E minha imaginação voava... Uma menina branca flutuando numa nuvem de asas que espalham um pólem luminoso, fugindo do bandido transexual, puxada por borboletas brilhantes da terra do nunca. Talvez ela nunca tenha acontecido, talvez ela seja o meu nunca. Ela era minha imaginação fértil, enquanto os mendigos embaixo da ponte cagavam suas merdas podres. Talvez ela seja meu eu atual.